A dependência química ainda é cercada por muitos mitos que dificultam a compreensão da doença e a busca por tratamento. Muitas pessoas veem o vício como uma escolha ou uma questão de falta de controle, sem entender que se trata de um problema de saúde que pode atingir qualquer pessoa. Neste artigo, vamos esclarecer algumas das crenças erradas mais comuns sobre a dependência química e o alcoolismo.
1. Depender de drogas ou álcool é uma escolha?
Não! O vício não acontece porque alguém simplesmente decide usar e não consegue parar. A dependência química é uma doença reconhecida, que altera o cérebro e dificulta o controle sobre o uso de substâncias. Fatores como genética, ambiente, questões emocionais e sociais influenciam muito nesse processo.
2. Só quem usa drogas todos os dias pode ser dependente?
Errado! Uma pessoa pode ser dependente de álcool, remédios ou outras substâncias mesmo sem usar diariamente. O problema não está na frequência, mas na dificuldade de parar, mesmo sabendo que aquilo está prejudicando sua vida.
3. Só pessoas pobres ou sem estudo têm problemas com vício?
Isso é um grande mito! A dependência química pode afetar qualquer pessoa, independentemente de classe social, idade ou nível de escolaridade. Infelizmente, há um estigma que faz parecer que o problema está apenas em grupos mais vulneráveis, mas ele pode estar presente em qualquer realidade.
4. Para parar de usar, basta ter força de vontade?
Se fosse apenas uma questão de querer parar, muitas pessoas já teriam conseguido. O vício altera áreas do cérebro responsáveis pelo controle dos impulsos e do prazer, tornando difícil abandonar a substância sem apoio profissional. Além disso, a abstinência pode trazer sintomas fortes, que tornam ainda mais complicado sair desse ciclo sozinho.
5. Quem tem dependência química nunca vai se recuperar?
Isso não é verdade! A recuperação é possível e muitas pessoas conseguem reconstruir suas vidas após a dependência. O caminho pode ser desafiador, mas com tratamento, apoio emocional e mudanças na rotina, a superação acontece. A recaída pode acontecer, mas isso não significa que a pessoa está condenada ao vício para sempre.
6. Beber socialmente não tem risco de levar ao alcoolismo?
Nem sempre. Algumas pessoas têm uma predisposição maior para o alcoolismo, seja por fatores genéticos ou emocionais. Para elas, o consumo "social" pode evoluir para uma dependência mais séria sem que percebam. Estar atento aos sinais de alerta é essencial.
7. O problema só afeta quem usa a substância?
O vício impacta toda a família, amigos e até o ambiente de trabalho. Muitas pessoas próximas ao dependente sofrem emocionalmente e acabam desenvolvendo ansiedade, depressão e um comportamento de codependência, tentando controlar ou salvar o outro.
8. Existe um tratamento único que funciona para todos?
Cada pessoa tem uma história diferente e, por isso, o tratamento precisa ser adaptado. Alguns precisam de internação, enquanto outros conseguem se recuperar com acompanhamento ambulatorial. Terapia, grupos de apoio e, em alguns casos, medicamentos podem ser fundamentais para a recuperação.
9. Basta tratar o vício, sem olhar para os problemas emocionais?
Não! Muitas vezes, a dependência química está ligada a questões emocionais profundas, como traumas, depressão e ansiedade. Se essas causas não forem trabalhadas, a pessoa pode voltar a usar a substância como uma forma de aliviar o sofrimento.
10. Depois de um tempo sem usar, dá para voltar a beber ou usar drogas de forma controlada?
Para a maioria dos dependentes, voltar ao uso, mesmo que de forma "moderada", pode levar rapidamente a uma recaída. O cérebro já foi condicionado à substância e, por isso, a melhor opção costuma ser a abstinência total para evitar novos episódios de uso descontrolado.
Concluindo: A dependência química não é uma fraqueza ou uma escolha. É uma condição de saúde séria, que precisa ser tratada com respeito e cuidado. A desinformação só afasta as pessoas do tratamento e reforça preconceitos.
Se você ou alguém próximo está passando por isso, saiba que há caminhos para a recuperação. Com ajuda profissional, apoio emocional e determinação, é possível superar o vício e reconstruir a vida. Não hesite em procurar ajuda!
Texto de:
Alessander Carregari Capalbo – Psicólogo e Psicanalista (Especialista em Tratamento de Drogadição e Alcoolismo - Curso de Extensão Universitária oferecido pela USP - 2024