domingo, 11 de maio de 2025

Violência Sexual Contra Homens: Um Silêncio que Precisa Ser Quebrado

 



Você já ouviu falar sobre a violência sexual contra homens? Embora ainda seja pouco discutido, esse é um problema grave, real e crescente. Em cinco anos, mais de 45 mil homens foram vítimas desse tipo de agressão no Brasil. Só em 2024, o número chegou a 10.603 casos registrados. E janeiro de 2025 já começou batendo todos os recordes anteriores, com 1.117 ocorrências. Esses dados mostram algo urgente: precisamos falar sobre isso.

O que é violência sexual?

Violência sexual não é apenas um ato físico. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se do uso da força, ou do poder, para obrigar uma pessoa a participar de uma atividade sexual contra sua vontade. Isso pode causar traumas profundos — físicos, emocionais, psicológicos e até sociais.

Muitas vezes, esse tipo de violência acontece de forma silenciosa, escondida, praticada por pessoas próximas da vítima. E os impactos são duradouros: dores emocionais, dificuldade de confiar, problemas nos relacionamentos e até prejuízos no desempenho escolar ou profissional.

O tabu que cerca os homens

Apesar das mulheres representarem a maioria das vítimas de violência sexual (mais de 330 mil casos entre 2020 e 2024), os homens também são atingidos. E, infelizmente, por questões culturais, sociais e emocionais, muitos não se sentem à vontade para denunciar ou buscar ajuda.

A sociedade, por muito tempo, ensinou que homens precisam ser fortes, não podem chorar, nem mostrar fragilidade. Quando um homem é vítima de abuso, ele pode sentir vergonha, medo de ser desacreditado, ou até confusão em relação ao que aconteceu. Isso faz com que muitos calem a dor — e sofram sozinhos.

Além disso, quando o agressor é outro homem, muitos sentem receio de que o episódio seja interpretado como um ato consentido, alimentando ainda mais o estigma e o silêncio.

Memórias que não se apagam

A ONG Memórias Masculinas foi criada justamente para oferecer apoio psicológico a homens que passaram por experiências de abuso. O psicólogo Denis Ferreira, um dos fundadores, conta que muitos desses homens só revelam o trauma anos depois, durante outras terapias. E mesmo quando recebem retorno para marcar atendimento, apenas metade comparece.

Ferreira destaca que muitos homens não conseguem sequer reconhecer que foram vítimas — especialmente quando o abuso foi cometido por uma mulher. Isso mostra como precisamos educar emocionalmente e sexualmente nossas crianças e adolescentes. Precisamos ensinar que abuso é qualquer contato sexual sem consentimento, independentemente do gênero da vítima ou do agressor.

Como identificar os sinais

Alguns sinais de que alguém pode ter sofrido abuso sexual incluem:

  • Mudanças repentinas de comportamento;

  • Oscilações de humor;

  • Agressividade;

  • Dificuldade de concentração ou aprendizagem;

  • Isolamento social;

  • Sintomas físicos sem explicação médica;

  • Medo excessivo de pessoas ou lugares específicos.

Nos adultos, o trauma pode se manifestar como dificuldade de manter relacionamentos, baixa autoestima, culpa, ansiedade, depressão e uso abusivo de substâncias.

Por que é tão difícil pedir ajuda?

Para muitos homens, admitir que sofreram abuso é enfrentar medos profundos: o medo de serem julgados, de não serem levados a sério, de parecerem "fracos". A masculinidade, da forma como foi construída culturalmente, não deixa espaço para o cuidado com as próprias emoções.

Ferreira aponta que muitos homens têm dificuldade em buscar ajuda por dois principais motivos:

  1. A maioria dos abusos sofridos por homens são cometidos por outros homens, o que ativa preconceitos e medos relacionados à sexualidade e identidade.

  2. A pressão social para serem "protetores" e "fortes" faz com que não se sintam no direito de demonstrar fragilidade ou dor.

Mas é preciso lembrar: sofrer abuso nunca é culpa da vítima. A responsabilidade é sempre de quem cometeu a agressão. E buscar ajuda não é sinal de fraqueza — é sinal de coragem.

Como apoiar alguém que passou por isso?

Se alguém confiou em você para contar que foi vítima de violência sexual, você pode ajudar muito. Veja algumas atitudes que fazem a diferença:

  • Acredite no que a pessoa está contando. Não minimize nem duvide.

  • Ouça com empatia. Não pressione por detalhes. Respeite o tempo da pessoa.

  • Ajude a pessoa a entender suas opções. Encaminhar para serviços de apoio psicológico, como psicólogos, grupos de escuta ou serviços públicos especializados, pode ser essencial.

  • Jamais culpe a vítima. O abuso nunca é justificável.

  • Peça permissão antes de qualquer toque físico. Mesmo um abraço pode ser gatilho para quem viveu um trauma.

  • Cuide também de você. Apoiar alguém nessa situação pode ser emocionalmente pesado. Você também pode procurar apoio psicológico para lidar com isso.

E os impactos do abuso sexual?

Os efeitos de uma agressão sexual podem durar anos — ou a vida toda, quando não tratados. Entre os impactos mais comuns estão:

  • Transtornos de ansiedade;

  • Depressão;

  • Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT);

  • Dificuldades de sono;

  • Problemas sexuais;

  • Uso de álcool e outras drogas como forma de fuga;

  • Pensamentos suicidas.

É por isso que o acolhimento e o tratamento psicológico são fundamentais. A vítima precisa ser ouvida, respeitada e acompanhada. E é justamente nesse espaço que a psicoterapia atua: ajudando a pessoa a reconstruir sua história com dignidade e sentido.

Buscar ajuda é um ato de amor-próprio

Se você foi vítima de violência sexual, ou conhece alguém que passou por isso, saiba que você não está sozinho. O trauma não precisa definir quem você é. Ele faz parte da sua história, mas não é o fim dela.

A psicoterapia é um caminho de cura. É nela que muitas pessoas reencontram a força que pensaram ter perdido. É nela que a dor encontra palavras, e o silêncio começa a se desfazer.

Muitos homens estão reescrevendo suas histórias. Você também pode dar esse passo. E se ainda não estiver pronto para falar, tudo bem. O importante é saber que existe um lugar seguro te esperando — e profissionais dispostos a te acolher, sem julgamento.

Para refletir…

  • O que tem te impedido de buscar ajuda?

  • Que peso você carrega em silêncio?

  • Como seria sua vida se você decidisse se cuidar de verdade?

A dor que não é dita, se repete. Mas a dor que encontra escuta, pode ser transformada.


Você não precisa caminhar sozinho.


Psi. Alessander Capalbo

domingo, 27 de abril de 2025

Revista Saúde Mental - Tema de Hoje: "Vamos conversar sobre Depressão?"

 

























Um Apelo por Respeito e Responsabilidade (Em pleno 2025 seguimos vendo a banalização dos transtornos mentais).


Transtornos Mentais Não São Tema de Música: Um Apelo por Respeito e Responsabilidade (Em pleno 2025 seguimos vendo a banalização dos transtornos mentais)

Como Psicólogo Clínico e Doutor em Psicologia Psicanalítica, não pude esconder minha profunda indignação ao ouvir a música "Borderline", da dupla Maiara e Maraisa. Em pleno 2025, ainda assistimos à banalização de transtornos mentais e à propagação de estigmas que tanto lutamos para desconstruir. A letra, de maneira irresponsável, distorce o que é o Transtorno de Personalidade Borderline, reforçando preconceitos e desinformação.
O Transtorno de Personalidade Borderline é uma condição séria, caracterizada por intenso sofrimento emocional, dificuldade em regular emoções e manter relações estáveis. Essas pessoas não são “vilãs” nem “loucas”, como a música insinua — são seres humanos que enfrentam batalhas emocionais profundas e que merecem respeito e acolhimento.

A letra apresenta absurdos como:
🔴
"Nem preciso de CRM pra diagnosticar essa loucura" — Desrespeita a complexidade do diagnóstico psicológico e psiquiátrico.
🔴
"Perfil de personalidade borderline" ligado a abusos — Distorce o transtorno e promove a criminalização do sofrimento psíquico.
🔴
"Instável, intenso e extremo" — Reduz uma condição complexa a rótulos simplistas.
🔴
"Você não é remédio de maluco" — Termo pejorativo que reforça a exclusão social e a psicofobia.
Como profissional da saúde mental, afirmo: transtornos como o Transtorno de Personalidade Borderline exigem abordagem séria e ética. Quando figuras públicas tratam desses temas de forma leviana, geram medo, vergonha e afastam ainda mais quem precisa de ajuda.
Saúde mental é um tema que pede responsabilidade, empatia e conhecimento. Não podemos permitir que o sofrimento humano seja transformado em entretenimento raso.
Seguirei lutando para que haja mais respeito, informação correta e acolhimento. Transtornos mentais não são enredos de músicas — são realidades que pedem humanidade.




sábado, 12 de abril de 2025

"Viver Dá Trabalho, Mas Vale a Pena!"



Viver de verdade exige escolhas diárias. É mais fácil seguir no automático, mas isso custa caro: perdemos tempo, energia e sentido. Cuidar da mente, do corpo, estabelecer limites e dizer “sim” ao que importa e “não” ao que desgasta é o começo de uma vida com mais presença.

Sim, dá trabalho. É sair da zona de conforto, encarar mudanças, ter disciplina e paciência. Mas o retorno vem: mais clareza, equilíbrio e propósito.

A vida não precisa ser perfeita, mas pode ser real e significativa.


Posso te ajudar?



Fone e Watssap para agendar a sua sessão online ou presencial: 61 - 99500-0200  


sábado, 5 de abril de 2025

Reflexão sobre a NR-1 - Ir além da letra da lei

 


Já é de conhecimento geral que a Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) passou por mudanças importantes, e que agora as empresas têm a obrigação de incluir os riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Muitas organizações, inclusive, já estão se movimentando para atender essa nova exigência e evitar possíveis penalidades.

No entanto, é justamente nesse ponto que mora uma grande preocupação: que essa atualização seja encarada apenas como mais uma tarefa burocrática a ser cumprida, e não como uma chance concreta de repensar e melhorar a forma como o trabalho é organizado e vivenciado no dia a dia.

Por isso, quero propor uma reflexão sobre alguns aspectos essenciais que não podem ser ignorados:

➝ O sofrimento mental ainda é tratado como um problema pessoal.
Muitas empresas ainda enxergam o adoecimento psicológico como algo que pertence unicamente ao colaborador, sem considerar que, muitas vezes, é o próprio ambiente de trabalho que está contribuindo – ou mesmo causando – esse sofrimento.

➝ Fatores como reconhecimento, salário justo e incentivos fazem diferença.
Ignorar esses elementos é fechar os olhos para uma parte significativa do que adoece os trabalhadores. A falta de valorização impacta diretamente na saúde mental.

➝ Situações do passado se repetem, apenas com outra roupagem.
No tempo em que eram mais frequentes, muitos trabalhadores eram culpabilizados por suas doenças. Hoje, vemos o mesmo acontecer com os transtornos psíquicos: a responsabilidade é empurrada para o indivíduo, quando muitas vezes a origem do problema está na forma como o trabalho é estruturado.

➝ Atividades como yoga, Capo-Terapia são bem-vindas, mas não bastam.
Essas práticas podem oferecer algum alívio, mas sozinhas não resolvem. O que realmente pode promover mudanças duradouras é repensar o modo como as tarefas são organizadas e distribuídas, promovendo o que se pode chamar de "ergonomia mental" – um cuidado com a saúde emocional que nasce da estrutura e da cultura organizacional. Necessita de um acompanhamento de um psicólogo, talvez uma vez por mês na empresa, ou até mesmo no atendimento individualizado aos trabalhadores.

Sem dúvida, a nova NR-1 representa um avanço importante na proteção à saúde dos trabalhadores. E como alguém que defende a saúde mental com a mesma seriedade com que se defende o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), vejo essa atualização como uma conquista que já era mais do que necessária.

Mas é preciso ir além da letra da lei. A transformação verdadeira virá quando as empresas passarem a enxergar essa exigência não como um peso, mas como uma oportunidade de evoluir. Valorizar os profissionais, criar ambientes saudáveis e assumir a responsabilidade pelo bem-estar coletivo não é apenas um dever legal – é um compromisso ético.

Se isso não acontecer, continuaremos apenas cobrindo com curativos um problema que exige cirurgia. Ou seja, estaremos apenas disfarçando algo que precisa ser tratado de forma profunda e com seriedade.


Psi.Alessander Capalbo

Dr em Psicologia Psicanalítica

quinta-feira, 20 de março de 2025

Dependência Química: Verdades e Mitos que Precisam Ser Enxergados


A dependência química ainda é cercada por muitos mitos que dificultam a compreensão da doença e a busca por tratamento. Muitas pessoas veem o vício como uma escolha ou uma questão de falta de controle, sem entender que se trata de um problema de saúde que pode atingir qualquer pessoa. Neste artigo, vamos esclarecer algumas das crenças erradas mais comuns sobre a dependência química e o alcoolismo.

1. Depender de drogas ou álcool é uma escolha?

Não! O vício não acontece porque alguém simplesmente decide usar e não consegue parar. A dependência química é uma doença reconhecida, que altera o cérebro e dificulta o controle sobre o uso de substâncias. Fatores como genética, ambiente, questões emocionais e sociais influenciam muito nesse processo.

2. Só quem usa drogas todos os dias pode ser dependente?

Errado! Uma pessoa pode ser dependente de álcool, remédios ou outras substâncias mesmo sem usar diariamente. O problema não está na frequência, mas na dificuldade de parar, mesmo sabendo que aquilo está prejudicando sua vida.

3. Só pessoas pobres ou sem estudo têm problemas com vício?

Isso é um grande mito! A dependência química pode afetar qualquer pessoa, independentemente de classe social, idade ou nível de escolaridade. Infelizmente, há um estigma que faz parecer que o problema está apenas em grupos mais vulneráveis, mas ele pode estar presente em qualquer realidade.

4. Para parar de usar, basta ter força de vontade?

Se fosse apenas uma questão de querer parar, muitas pessoas já teriam conseguido. O vício altera áreas do cérebro responsáveis pelo controle dos impulsos e do prazer, tornando difícil abandonar a substância sem apoio profissional. Além disso, a abstinência pode trazer sintomas fortes, que tornam ainda mais complicado sair desse ciclo sozinho.

5. Quem tem dependência química nunca vai se recuperar?

Isso não é verdade! A recuperação é possível e muitas pessoas conseguem reconstruir suas vidas após a dependência. O caminho pode ser desafiador, mas com tratamento, apoio emocional e mudanças na rotina, a superação acontece. A recaída pode acontecer, mas isso não significa que a pessoa está condenada ao vício para sempre.

6. Beber socialmente não tem risco de levar ao alcoolismo?

Nem sempre. Algumas pessoas têm uma predisposição maior para o alcoolismo, seja por fatores genéticos ou emocionais. Para elas, o consumo "social" pode evoluir para uma dependência mais séria sem que percebam. Estar atento aos sinais de alerta é essencial.

7. O problema só afeta quem usa a substância?

O vício impacta toda a família, amigos e até o ambiente de trabalho. Muitas pessoas próximas ao dependente sofrem emocionalmente e acabam desenvolvendo ansiedade, depressão e um comportamento de codependência, tentando controlar ou salvar o outro.

8. Existe um tratamento único que funciona para todos?

Cada pessoa tem uma história diferente e, por isso, o tratamento precisa ser adaptado. Alguns precisam de internação, enquanto outros conseguem se recuperar com acompanhamento ambulatorial. Terapia, grupos de apoio e, em alguns casos, medicamentos podem ser fundamentais para a recuperação.

9. Basta tratar o vício, sem olhar para os problemas emocionais?

Não! Muitas vezes, a dependência química está ligada a questões emocionais profundas, como traumas, depressão e ansiedade. Se essas causas não forem trabalhadas, a pessoa pode voltar a usar a substância como uma forma de aliviar o sofrimento.

10. Depois de um tempo sem usar, dá para voltar a beber ou usar drogas de forma controlada?

Para a maioria dos dependentes, voltar ao uso, mesmo que de forma "moderada", pode levar rapidamente a uma recaída. O cérebro já foi condicionado à substância e, por isso, a melhor opção costuma ser a abstinência total para evitar novos episódios de uso descontrolado.


Concluindo: A dependência química não é uma fraqueza ou uma escolha. É uma condição de saúde séria, que precisa ser tratada com respeito e cuidado. A desinformação só afasta as pessoas do tratamento e reforça preconceitos.

Se você ou alguém próximo está passando por isso, saiba que há caminhos para a recuperação. Com ajuda profissional, apoio emocional e determinação, é possível superar o vício e reconstruir a vida. Não hesite em procurar ajuda!


Texto de:  

Alessander Carregari Capalbo – Psicólogo e Psicanalista (Especialista em Tratamento de Drogadição e Alcoolismo - Curso de Extensão Universitária oferecido pela USP - 2024



Violência Sexual Contra Homens: Um Silêncio que Precisa Ser Quebrado

  Você já ouviu falar sobre a violência sexual contra homens? Embora ainda seja pouco discutido, esse é um problema grave, real e crescente...